
O TERRITÓRIO
As oficinas foram realizadas no território abrangido pelo Museu da Vila, em Luís Correia, no Estado do Piauí, um dos dez municípios que integram a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, criada por Decreto Governamental em 1996. O museu localiza-se na vila-bairro, Coqueiro da Praia, habitada por populações remanescentes de nativos que se hibridizaram ao longo do tempo com migrantes do Ceará e Maranhão, ainda no século XIX, e formaram uma comunidade de pescadores artesanais, cujo ofício e modos de saber-fazer estão tradicionalmente associados às artes de pesca e tecnologias de construção de embarcações, transmitidos oralmente de geração em geração.
VIVÊNCIAS PARTILHADAS
MUSEU DA VILA
Museu da Vila, antiga Escola João Pinto
O Museu da Vila, hoje centro cultural e de acolhimento de todos os moradores da Vila-Bairro Coqueiro da Praia, foi o local de uma antiga escola que funcionou por muitos anos no bairro e cujos moradores possuem várias lembranças e recordações.
VILA-BAIRRO COQUEIRO DA PRAIA

LOCALIZAÇÃO
No Estado do Piauí, Luís Correia é o município com maior extensão de litoral, com cerca de 50 km, mais da metade da área litorânea de todo o estado. A cidade conta com 28.406 habitantes, de acordo com o censo realizado em 2010 pelo IBGE e os limites geográficos apresentam-se: a Leste, os povoados do Coqueiro, Barra Grande, Macapá, Cajueiro da Praia e Estado do Ceará; a Oeste, o Rio Igaraçu e o Estado do Maranhão; ao Norte, o Oceano Atlântico; e ao Sul, a Cidade de Parnaíba-PI (IBGE, 2018).

A PAISAGEM
Segundo diagnóstico realizado no Bairro Coqueiro, dentro do âmbito do Programa de Pós-Graduação em Artes, Patrimônio e Museologia, por meio de questionários, pesquisas, entrevistas e registros, sabe-se que o bairro, em tempos áureos, foi uma vila com grande abundância na área pesqueira e no local onde atualmente estão situadas as barracas de praia, bares e restaurantes, estavam situadas as “pesqueiras”, cabanas cobertas de palhas, que funcionavam como um local específico para as “tratadoras de peixes”. Com o retorno dos pescadores do mar, eram, então, as mulheres que realizavam o tratamento dos peixes e, portanto, a subsistência de praticamente toda a comunidade estava atrelada ao ofício e às artes da pesca (PPGAPM, 2017). Dessa forma, a rica e singular paisagem natural da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba faz parte do cotidiano de "populações ribeirinhas e praieiras, populações tradicionais, com destaque para pescadores, catadores de caranguejo, rendeiras, artesãos em palha, argila e madeira, lavadeiras e barqueiros" (MOURA; PINHEIRO, 2016). A praia do Coqueiro, muito cobiçada pelas suas paisagens naturais, possui 16 quilômetros de extensão e ganhou esse nome devido à significativa quantidade de coqueiros plantados à beira-mar.

A PRAIA
O bairro, ao longo dos anos, por conta das condições climáticas e naturais favoráveis, passou a ser frequentado massivamente como área de veraneio e para a prática do windsurf e kitesurf, principalmente em períodos considerados de alta estação: janeiro, fevereiro, julho e dezembro (PPGAPM, 2017). O principal clube da região é o Clube Barramares, que sedia grandes eventos carnavalescos e shows no período das férias de julho e janeiro, frequentado por pessoas e classes com alto poder aquisitivo e é, portanto, ao mesmo tempo, uma fonte de geração de trabalhos temporários para a população local. Outro atrativo, que agrega grande valor turístico para o bairro, é a presença de tartarugas marinhas no pequeno litoral do Piauí, que utilizam os afloramentos rochosos, como áreas de alimentação, crescimento e abrigo e a extensão das praias, para confeccionarem os ninhos, cuja temporada de desova ocorre entre os meses de fevereiro a julho (PPGAPM, 2017).

O CENTRO
Voltando-se para a porção central do bairro, dentre as construções de maior referência, está uma praça, denominada pela população como “Praça do Coqueiro”, localizada nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora do Livramento e que congrega os moradores em diversas ocasiões, reuniões, festividades e momentos de lazer. Assim, para uma parte da população, que habita sazonalmente o bairro, o lazer está relacionado à praia, hotéis, bares e restaurantes. Para outra parcela, que habita o bairro ao longo de todo o ano e que tem como meio de vida o trabalho na pesca ou nas casas de veraneio, bares, hotéis e restaurantes, o lazer está voltado para a porção mais central do bairro, que engloba a praça, a igreja e o campo de futebol “Cascudão” e a praia nem mesmo é frequentada para o lazer, mas apenas comi um meio de ganhar a vida (PPGAPM, 2017).

OS IMPACTOS
A atividade do turismo na praia do Coqueiro tem impactado de diversas formas o ciclo e a desova das tartarugas marinhas e os ecossistemas costeiros, com a intensificação da urbanização litorânea, produzindo pressões sobre esses espaços a partir da construção desordenada e sem planejamento de condomínios, resorts, pousadas e casas de veraneios, além da sujeira e poluição. Muitas dessas casas de veraneio, bares e restaurantes, inclusive, encontram-se em situação irregular, muito próximos do mar, afetando as Áreas de Proteção Ambiental (PPGAPM, 2017). Ocorreram ainda significativas alterações na comunidade local, gerando prejuízos também à atividade da pesca, uma vez que os pescadores da comunidade estão aos poucos distanciando-se desse ofício e de toda uma identidade e patrimônio cultural atrelados a ele, devido à oferta de empregos mais rentáveis vinculados ao setor de turismo. Dessa forma, empregos como cuidadores e empregados das casas de veraneio, empresários e vendedores em comércios, bares e restaurantes e instrutores de windsurf e kitesurf vem substituindo gradativamente os ofícios voltados às artes de pesca (PPGAPM, 2017). Assim, é que as mudanças econômicas acabam por afetar também os modos do ofício e as embarcações, e os pescadores terminam por contratar, cada vez mais, serviços terceirizados e modernizar suas embarcações, adquirindo motores através da internet e instalando-os, além de contratarem seguros em caso de danos e acidentes, para tornar as idas ao mar mais eficientes e seguras. Nesse contexto, acredita-se que a expansão do turismo na região litorânea provoca impactos que se refletem principalmente na vida das pessoas que habitam continuamente esses lugares e, portanto, essa situação sugere a necessidade de pesquisas e ações que estabeleçam o desenvolvimento local, valorizando o modo de vida e os saberes e fazeres das comunidades locais.